O regresso às aulas pode ser um momento tão desejado como temido, tanto para os alunos como para os pais, que podem também sentir-se apreensivos e receosos.
Enquanto muitas crianças e adolescentes anseiam entusiasticamente por rever colegas, professores e retomar as suas rotinas, atividades e brincadeiras, percebendo a escola, para além das aprendizagens, também como um lugar de diversão e partilha, para outras a ansiedade pode ter um papel preponderante na forma como avaliam e anteveem este momento.
Sentimentos de desânimo, aborrecimento, insegurança e desmotivação estão muitas vezes relacionados com a insegurança face ao desconhecido. De referir ainda, os casos em que o contexto escolar é, por si só, um fator ansiogénico devido à dinâmica entre os grupos de pares (ex. casos de bullying) ou em situações nas quais existe uma perturbação de ansiedade.
Relativamente aos pais, é natural que possam experienciar alguma ansiedade, causada pela preocupação com o bem-estar, segurança, comportamento e desempenho do seu filho. Os pais de adolescentes, tendem a ter como fatores ansiógenos a preocupação com comportamentos de risco e a influência do grupo de pares.
A ansiedade constitui um mecanismo de defesa protetor, que é desencadeada por uma situação desagradável / perigosa ou pela antecipação de um estímulo. As manifestações de ansiedade podem tornar-se patológicas quando um estímulo neutro ou inofensivo (ex. a escola) é avaliado pela criança/adolescente, ou pelos pais, como potencialmente perigoso, prolongando-se no tempo e causando sofrimento emocional na criança ou no jovem, interferindo com a sua funcionalidade, bem-estar e desempenho.
Por esta razão, é fundamental estar alerta aos principais sinais de ansiedade: dores de barriga ou de cabeça, sensação de aperto no peito ou de falta de ar, choro, insónias, pesadelos, isolamento ou mesmo recusa em ir à escola, alterações do apetite, aceleração do ritmo cardíaco, agitação excessiva, fadiga, irritabilidade e dificuldades de concentração/atenção.
Estratégias
É fundamental que os pais mostrem disponibilidade para ajudar a criança/adolescente quando algo não está a correr bem, devendo existir um diálogo diário, recomendando-se perguntas abertas para que haja a possibilidade de se expressarem livremente e dando espaço para expor as suas preocupações e dificuldades.
As expetativas face ao desempenho escolar devem ser razoáveis e realistas e os pais devem elogiar os esforços e demonstrar confiança, para que a criança/adolescente possa acreditar no seu potencial.
Há ainda outros aspetos que podem contribuir muito positivamente para uma boa adaptação ao novo ano letivo, destacando-se:
- a estimulação da autonomia, para que se sintam confiantes e confortáveis em desempenhar tarefas do dia-a-dia, ajustadas à sua faixa etária;
- o desenvolvimento das skills sociais, através da exposição a situações que permitam a prática da socialização (ex. fazer os seus próprios pedidos em lojas, restaurantes e cafés, contacto com pessoas novas e diferentes com regularidade);
- o estabelecimento de rotinas para as atividades, estudo, refeições e sono, fomentando a autoconfiança e sentimento de pertença dentro da família;
- o reconhecimento, celebração e reforço das conquistas pessoais e escolares da criança/adolescente;
- o envolvimento das crianças em atividades desportivas e extracurriculares, promovendo a sua saúde física e mental, a par da sua capacidade de socialização, reforçando a sua autoestima e autoconfiança.
Recomenda-se que o regresso à escola seja preparado antecipadamente, de forma descontraída, sem gerar inseguranças ou dúvidas. A aquisição e organização dos materiais escolares deve ser um momento vivido em família, motivador e entusiasmante para a criança, através da sua inclusão na escolha dos mesmos.
Inicialmente, as ações aparentemente simples tais como levantar cedo, preparar a mochila ou até escolher a roupa que vão usar podem ser um desafio. No entanto, a repetição acabará por se tornar rotineira e também a ansiedade e desconforto sentidos nos primeiros dias deverá começar a desaparecer. Deve, acima de tudo, transmitir-lhe segurança e mostrar empatia com os sentimentos e emoções da criança/adolescente. Progressivamente, começarão a sentir-se mais integradas e motivadas para ir à escola.
Recordando que as emoções são reações naturais do ser humano àquilo que o rodeia, é fundamental aprender a reconhecê-las e validá-las. Salienta-se a importância de aprender estratégias psicoeducativas que ajudem a lidar com momentos nos quais as emoções que causam um maior desconforto se possam intensificar, como no caso da ansiedade. A criança/jovem deve ser capaz de identificar os primeiros sinais, para que seja mais fácil evitar que aumentem de intensidade. Para tal, o recurso a exercícios de respiração, relaxamento, estratégias cognitivas e/ou comportamentais são ótimas ferramentas.
Em casos nos quais se identifique que um ou mais sintomas apresentam contornos desajustados e se mantêm ou aumentam ao longo do tempo, os pais devem esforçar-se por acalmarem as suas próprias emoções, antes de tentarem ajudar a lidar com a situação, não esquecendo que são o modelo para a criança/jovem. É essencial procurar o apoio do pediatra ou de um especialista em saúde mental, de forma a obter a melhor intervenção.
Ana Freitas
Psicóloga Clínica
Комментарии